"Exmos senhores e senhoras,
Parabéns pelo resultado das urnas.Tenho certeza de que os exmos estão à altura dos seus
exmos cargos.
Sabemos, porém, que nada no mundo muda de um dia para o outro. Assim sendo, infelizmente, os exmos ainda não terão sido os primeiros 100% honestos eleitos no nosso país. Por conseguinte, tenho uma proposta escusa a fazer.
Roubem 10% menos. Não é muito, não vai fazer falta para os exmos. Roubando 90% do que os exmos estão pretendendo roubar, já vai dar para comprar quase tudo que os exmos desejam. E, daqui a quatro anos, todos seriam co-responsáveis por um fato inédito na história recente do Brasil: o país teria melhorado.
Além dessa conquista, com a sobra de 10% de dinheiro nos cofres públicos, talvez fosse possível construir mais 10% de escolas e hospitais. Ou aumentar em 10% a verba para a segurança. Ou diminuir em 10% os atuais índices de desemprego.
Peço aos exmos que imaginem: nós, todos nós, podendo ligar a televisão e ver 10% menos notícias sobre escândalos na capital. Com a redução de 10% de CPIs, os congressistas ganharão 10% de tempo para aprovar as leis de que o país precisa. Com 10% menos explicações para dar, o governo terá 10% mais sossego para pensar em soluções para os nossos problemas.
Nunca estivemos tão perto de tamanha oportunidade - tudo isso depende apenas de um décimo de honestidade. Depois do "Fome Zero", teríamos o "Zero Vírgula Um Honesto".
Um pequeno passo para os exmos, um grande passo para toda a população.
Logicamente, essa minha proposta não se aplica a aqueles exmos que não estão pretendendo roubar. Mas, como tal contingente não ultrapassará uma pequena minoria, as inúmeras vantagens continuariam praticamente inalteradas.
Compreendo que exigir mais esse sacrifício dos exmos, depois de um processo eleitoral tão desgastante, pode parecer um pouco injusto e precipitado. Quero, entretanto, lembrar que tamanho ato de heroísmo jamais seria esquecido. Os exmos entrariam para a posteridade como aqueles que finalmente conseguiram tornar nosso país menos corrupto.
Termino, a título de estímulo, citando o grande Álvaro de Campos:"Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças".
Com seu linguajar desconcertante, o poeta (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) nos ensina que tudo na vida tem jeito. Peço, então, que considerem essa minha proposta com toda boa vontade e a devida seriedade.
É o desafio que deixo aos exmos, com todo o respeito que os exmos merecem."
Fernanda Young
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